Yes, I love CB
Bar que celebra tradição da boemia vira cult na Cidade Baixa
Do amor pelo bairro surgiu uma ideia, que virou cerveja e, em seguida, um bar. Esse é o resumo da trajetória do I love CB, contada por um dos responsáveis pelo boteco, Luís Haefliger, o Alemão. Mas essa é só uma parte da história.
Há cerca de quatro anos, a publicitária Letícia Silveira decidiu abandonar a rotina em agências de propaganda para juntar trabalho e diversão num só movimento. Foi quando passou a prestar serviços de comunicação para diferentes bares e cervejarias. Nesta época, o cerco da fiscalização da Prefeitura ameaçava inviabilizar os estabelecimentos, o que motivou a criação de uma associação em defesa da tradição boêmia do bairro. Numa das reuniões, ela e o amigo Robson Neves sugeriram que a entidade se denominasse I love CB, mas foram votos vencidos – a escolha da maioria recaiu sobre a proposta de Cidade Baixa em Alta.
Ciente da força da marca, Letícia insistiu na ideia e espalhou stencils com a frase I love CB nas paredes. Hoje, ela define a iniciativa como uma “intervenção um tanto nonsense” para levantar o astral da Cidade Baixa num momento de tensão e restrições à vida boêmia e cultural local.
– Não se tinha mais aonde ir depois de certa hora, ao passo que em outros polos de boemia, como o Moinhos de Vento, não existia restrição de espécie alguma, o que me motivou a tomar uma atitude em defesa do lugar em que morava, trabalhava e me divertia nos horários de folga.
Depois de registrar a marca, ela criou rótulos para cervejas artesanais produzidas pela Abadessa, além de imprimir a frase emblemática em camisetas, ecobags e bolachas de chope, que vendia em feiras e eventos de rua. Quando resolveu abrir um ponto fixo, procurou um espaço com baixo custo para que pudesse vender cerveja de qualidade a preços acessíveis. O bar foi inaugurado em abril de 2016 e algum tempo depois ganhou a adesão do Alemão, casado com Letícia, que é formado em Letras na PUC/RS e durante o dia dá aulas de espanhol no Colégio Estadual Carlos Fagundes de Mello, na zona norte de Porto Alegre.
Com cinco torneiras de chope artesanal das fábricas Mooca Beer, Abadessa, Aham e Elementun, o bar disponibiliza apenas cervejas comerciais feitas de puro malte (Heineken e Eisenbahn). Apesar da formação publicitária, Letícia não colocou em prática os planos de promoção que elaborou, talvez porque, como boa virginiana, jamais se convenceu de que o bar estivesse pronto para ganhar uma divulgação massiva. Em contrapartida, funcionou a propaganda boca a boca e das redes sociais.
O espaço diminuto facilita que se instale um clima de intimidade e aconchego, resgatando o que há de mais sagrado em qualquer botequim que se preze – a dimensão humana das relações entre proprietários e frequentadores. Com um público eclético, formado por artistas, jornalistas, bancários, profissionais autônomos e funcionários públicos, o I love CB virou cult, um abrigo para quem não tinha mais para onde ir em busca de um boteco autêntico. Letícia sabe o nome de quase todos os clientes e um pouquinho da vida de cada um. Em contrapartida, quase todos também conhecem um pouco da história dela.
– Na maior parte dos bares, quem te atende é um robô com um cartão. Aqui é diferente. O I love CB é amor, amor, amor – amor à cerveja, amor à música e amor ao bairro, conclui Letícia.
O I love CB está de portas abertas na Rua da República, 695, do começo da noite até a 1h aos domingos e às terças e quartas-feiras; de quinta a sábado, até as 2h.