Palácio das Lágrimas
Biografia de dono de famoso cassino de Porto Alegre será lançada em 2018
A vida de Luiz Alves de Castro, proprietário do Club dos Caçadores, famoso cassino da capital gaúcha no começo do século passado, vai virar livro. A biografia deverá ser lançada no próximo ano pelo jornalista Marcello Campos, pesquisador que desvenda os mistérios da Porto Alegre antiga.
Marcello seguiu os rastros do protagonista nascido em 1884 desde os arquivos da Catedral Metropolitana, onde eram guardados os registros de nascimento dos porto-alegrenses no século 19, até as calçadas de Copacabana, no Rio de Janeiro, nas quais o Capitão Lulu – como ficou conhecido – desfilou como bon-vivant, desfrutando da riqueza que havia acumulado nos tempos de bonança, até morrer em 1965.
Dono também do solar onde atualmente está situado o Hotel Praça da Matriz, o biografado já havia sido personagem de cronistas como Carlos Reverbel e Manoel Braga Gastal, além de aparecer no livro Os Viajantes Olham Porto Alegre, publicado em 2004 por Sergio da Costa Franco, que reúne as impressões de visitantes a respeito da capital gaúcha.
O Club dos Caçadores, cabaré/cassino inaugurado em 1918 na Rua Andrade Neves, teve seu apogeu na década de 1920, época em que o proprietário se transformou em figura bastante citada, para o bem e para o mal, pelos jornais de Porto Alegre – aliás, o empresário não economizava dinheiro em propaganda, até como meio de ganhar prestígio.
O maior elogio provavelmente partiu de Carlos Machado – célebre produtor das peças de teatro de revista durante o esplendor da boemia carioca –, que considerava o cabaré de Lulu “um dos melhores clubes noturnos que conheci em todo o mundo” (o afago consta na autobiografia Memórias sem Maquiagem, de 1978). Explica-se: o porto-alegrense Carlos Machado tinha conhecido o Club dos Caçadores em sua juventude, antes de se transferir para o Rio, aonde iria se transformar no Rei da Noite (apelido dado pelo cronista Sérgio Porto).
Mas Capitão Lulu estava longe de ser unanimidade. Alvo de ataques do Correio do Povo e da Liga das Senhoras Católicas, foi acusado de cinismo por ajudar financeiramente viúvas de clientes que se suicidavam, desesperados com a perda das posses na jogatina. Por sinal, as tragédias pessoais fizeram com que o Club dos Caçadores ganhasse a alcunha de Palácio das Lágrimas, título provisório da biografia de Marcello Campos.
Em 1930, Luiz Alves de Castro se transferiu para o Rio de Janeiro embalado pelo ambiente favorável aos gaúchos instalado por aquelas bandas após Getúlio Vargas enlaçar o Obelisco e tomar o poder. Em parceria com Joaquim Rolla, dono do lendário cassino da Urca, ele abriu o Hotel Balneário Casino Icarahy, em Niterói, inaugurado com uma festa filantrópica patrocinada pela primeira dama do país, Darcy Vargas. As duas casas funcionavam em regime de combo – cantoras famosas, como Carmen Miranda, depois de cativarem a plateia da Urca, pegavam a barca para apresentações no outro lado da baía.
Com a proibição dos jogos de azar no Brasil, em 1946, os negócios do Capitão Lulu entraram em colapso e ele se viu obrigado a se desfazer de parte do patrimônio. Entretanto, conseguiu preservar o suficiente para levar uma vida confortável no Rio de Janeiro, até morrer na década de 1960. Enquanto isso, por muito tempo, o espaço do Club dos Caçadores na área central de Porto Alegre foi alugado para o Jockey Club do RS. Nas décadas de 1980 e 1990, abrigou restaurantes como Ilha Natural e Porto Velho. Hoje, um espigão está sendo construído no local.
O jornalista Marcello Campos é autor de quatro obras – Week-End no Rio (2006), sobre o Conjunto Melódico Norberto Baldauf; Minha Seresta (2011), biografia de Alcides Gonçalves; Johnson: O Boxeur-Cantor (2014), acerca de Orlando "Johnson" Silva, cantor e boxeador amigo de Lupicinio Rodrigues ; e O Almanaque do Lupi (2015).