Casa Profana
Bazar na cidade baixa abriu espaço para marcas autorais, valorizando a cadeia produtiva da moda sustentável
O sobrado da Rua Lima e Silva já é familiar para as mulheres que apreciam roupas e acessórios feitos com as mãos e o coração.
No domingo, 11/novembro, a casa que abriga a loja Profana da Cidade Baixa abriu espaço para um evento colaborativo inspirado no conceito de slow fashion e na valorização de toda a cadeia produtiva da moda sustentável. Das duas da tarde às oito da noite, cinco marcas autorais de estilistas gaúchos estiveram reunidas na primeira edição do Bazar Profana.
– Estamos abrindo a casa para novas ideias e eventos. Acreditamos que a Profana deve ser um difusor da cultura de nossa cidade, destaca a proprietária da loja Profana, Simone Moro.
O bazar contou ainda com cerveja artesanal e comidinhas gostosas, além do som de Kafu Silva, lendário DJ da cena musical da cidade – criador de festas como Baile Brasa, Zelig Dum e Crioulina.
Paisagem campestre
Uma das marcas convidadas foi a Of Design, aberta há dois anos e meio pela designer gráfica Márcia Oliveira Ferreira.
A aparição da Of Design coincide com a mudança da dona de mala e cuia de Porto Alegre para uma fazenda em São Francisco de Assis, na região oeste do Estado. O contato com a natureza inspirou Márcia a produzir porcelanas decorativas, com aplicação de decalques ou pintadas à mão com tintas e canetas especiais.
Ela define o trabalho como uma poesia visual, que transita entre as esferas do feminino, do místico e da contemporaneidade.
A concepção tem muito a ver com o ambiente em que as porcelanas são configuradas. Pela porta de vidro do atelier, Márcia vislumbra um cenário inspirador – a vista para o campo se estende até o largo horizonte pontuado por figuras de cavalos e ovelhas.
– As ovelhas de vez em quando até entram no atelier, diverte-se ela.
Já a marca Resto Zero, outra que participou do Bazar Profana, surgiu há dois anos a partir de estudos acerca dos impactos sociais e ambientais da indústria de fast fashion realizados por Lu Trento no curso de Design de Moda da UniRitter.
Disposta a tomar outro rumo, ela passou a produzir blusas, saias, vestidos e casacos, além de bolsas e brincos, a partir de resíduos de tecido e couro. O intuito é reduzir a prática de descarte e, através de técnicas como moulage e upcycling, devolver ao público peças únicas e diferenciadas, ajustadas aos mais diversos tamanhos e, acima de tudo, sem gênero. Ela também faz questão que sejam autênticas e atemporais.
– Gosto de pensar que poderiam ter sido utilizadas 20 anos atrás ou que poderão ser usadas daqui a 20 anos, comenta a dona da marca que possui um ponto de venda no Vila Flores.
Diálogo interno
O Bazar Profana teve também a presença da Solilóquios, marca de brechó “sentimental-artístico-experimental”, de acordo com a definição de sua criadora, a publicitária Isadora Hernandez.
Para quem não sabe, a palavra solilóquio remete ao diálogo interno de cada ente humano – dito de outra forma, se refere aos pensamentos e sentimentos mais profundos que habitam o indivíduo e, de alguma forma, precisam ser externalizados.
Em sintonia, a Solilóquios se constitui num brechó online, que disponibiliza acervo de moda alternativa, atual e retrô no Instagram, complementado por experimentos artísticos (textos e prints de colagens e fotografias) idealizados por Isadora.
Completaram a lista de participantes do evento a Prêt-à-Portella (marca autoral de roupas femininas) e a Me Voy (que produz bolsas e mochilas a partir de couro vegano).
Ao longo do domingo, ficou estacionado em frente à loja o food truck das cervejarias artesanais LeprechaunBeer e DNA Beer. Lá dentro, o Filipa Pan y Café ofereceu um cardápio de delícias para os convidados.
– Como os demais envolvidos no bazar, temos essa batida da coisa feita com amor, de modo artesanal. Praticamente tudo que a gente vende é produzido por nós, diz Liane Moro, dona do Filipa Pan y Café.
Aberto há pouco mais de dois meses, o Filipa Pan y Café trabalha com tortas doces e salgadas, bolos, muffins, pães e antepastos, entre outras receitas. Em sua sede, na Rua Giordano Bruno, bairro Rio Branco, dispõe de uma lojinha onde é possível adquirir pimentas, molhos e geleias, além de cervejas artesanais, cachaças e licores.
Uma coisa é certa: Liane se sentiu literalmente em casa no domingo. Afinal, ela é irmã de Simone, dona da Profana. Ambas viveram a infância e a adolescência no prédio que hoje hospeda a loja da Rua Lima e Silva, de propriedade da família.
O Bazar Profana foi o primeiro de uma série de eventos promovidos na loja da CB em comemoração aos 18 anos de vida da Profana, completados em 2018.
Ao longo do período, a marca que conta duas lojas – na Cidade Baixa e na Galeria Chaves, no Centro Histórico – e produz cerca de 30% das roupas oferecidas em suas araras e vitrines vem apostando na ideia de que “a moda é, acima de tudo, vestir o que dá prazer e conforto, em sintonia com o corpo e o espírito”, como salienta Simone.
O calendário comemorativo inclui bate-papo da psicóloga Ceura Nolasco, especialista em Desenvolvimento Humano, sobre arquétipos femininos e masculinos e a busca pelo equilíbrio, na tarde do sábado, 17/novembro, além de conversa de astrologia com a participação da jornalista Marília Rizzon, a Lila, no dia 23, sexta-feira.
Carreira, autoconhecimento e propósito de vida compõem os temas em debate no sábado, dia 1º/dezembro, com o coach James Marcelo. Por fim, a rodada de eventos fecha com a discussão a respeito de moda e sustentabilidade com a publicitária Andréia Marin Martins, CEO da Esfera Sustentável Negócios, no dia 4/dezembro, terça-feira.