Justíssimo
Um lugar para comer bem sem gastar muito, o Justo é ótimo ambiente para reunir amigos, estudar ou trabalhar
Um espaço multiuso de gastronomia e convivência.
É como se define o Justo, misto de restaurante, padaria e confeitaria, além de ponto de lazer e ambiente de estudo ou trabalho.
Não bastasse o caráter inovador, o Justo está cravado no alto de uma das obras arquitetônicas mais importantes de Porto Alegre – o Viaduto Otávio Rocha, junto à Avenida Borges de Medeiros, na área central da cidade.
A paisagem histórica recomenda aproveitar o espaço ao ar livre para comer um lanche, tomar um cafezinho ou beber uma cerveja junto às mesas na escadaria.
Já o living de entrada é ideal para quem aguarda companhia ou vai apenas comer um lanche rápido.
A cozinha industrial à vista permite que o público observe do living os pratos sendo preparados, como, aliás, exigem as normas de transparência.
Logo adiante, a sala de estar aconchegante é adequada para um bate-papo com amigos ou simplesmente para deixar o tempo passar.
Algumas pessoas circulam entre mesas e sofás com os pés descalços sobre o tapete, o que indica que estão, de fato, sentindo-se em casa.
– Não é em qualquer lugar que o visitante se sente à vontade para ficar descalço, gaba-se, com razão, Adelino Bilhalva, sócio-fundador do Justo.
No mezanino, as mesas podem ser dispostas de diferentes modos e, se necessário, até removidas do local para configurar as reuniões de trabalho.
Sim, o Justo também foi idealizado para ser um coworking, com internet compartilhada e café em abundância – por módicos R$ 5, é possível encher a caneca quantas vezes a pessoa quiser.
Além de reuniões em grupo, o espaço abriga também solitários que passam o dia trabalhando em notebooks.
– Quem quiser vir, mesmo sem consumir comida ou bebida, pode ficar tranquilo que não será mandado embora, diverte-se Adelino.
A capacidade do restaurante é de 130 pessoas bem acomodadas.
Quando abre espaço para a realização de workshops, palestras, cursos, aulas e outros eventos sem fins lucrativos – sextas-feiras e sábados, a agenda está sempre lotada –, o Justo está apto a receber até 300 participantes.
Reality show
O publicitário e designer Adelino ganhou a Batalha dos Cozinheiros, reality show exibido pela TV Record em 2016, em dupla com André Neto.
Além da premiação de R$ 200 mil, a competição de comida caseira rendeu exposição mundial à dupla – o programa foi distribuído para vários países pelos canais Discovery.
Não foi a primeira vez que Adelino se envolveu com a mídia. Desde 2013, ele é protagonista do canal Guia de Sobrevivência Gastronômica, do You Tube.
Fora sugestões de refeições, o canal mostra dicas sobre temas curiosos – uma das edições mais recentes ensina a almoçar com minguados R$ 10 no Abrigo da Praça 15.
Quando acabou o reality show, o youtuber começou a acalentar a ideia de abrir um negócio na área de gastronomia. Mas, desde o início, queria algo que ainda não existisse na cidade.
O primeiro sócio que aderiu à proposta foi Ricardo Yudi, professor de Gastronomia da UFCSPA (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre).
Paranaense de Toledo, Ricardo é dono da empresa S3: Food Design Lab, um laboratório de experiências gastronômicas com atuação no circuito de antirrestaurantes – residências que promovem jantares em endereços secretos, só divulgados para os clientes no momento em que é confirmada a reserva.
Os dois amigos passaram a buscar imóveis na região central da cidade, na qual viam potencial para negócios inovadores.
Além do aluguel mais em conta, o que atraiu os empreendedores foi a possibilidade de contribuir para estimular uma retomada da atividade econômica no Centro:
– O que faz um lugar se degradar é a falta de gente circulando, avalia Adelino.
Dos quatro endereços selecionados, o último a ser visitado ficava na escadaria do Viaduto Otávio Rocha, justamente uma área com baixa circulação de pedestres, no mais das vezes ocupada por moradores de rua e outros cidadãos desamparados pela sociedade.
Quando viu o anúncio, Adelino imaginou que se tratasse de uma sala acanhada. Ao chegar ao local, deparou com um espaço amplo, com mezanino, que propiciava a montagem de diversos ambientes.
Abaixo, veja uma sequência de imagens do interior do Justo.
Versão beta
Curiosamente, só depois da assinatura do contrato de locação os sócios se preocuparam em decidir qual a modalidade de empreendimento gastronômico iriam instalar no lugar.
A primeira ideia que surgiu foi a de uma casa especializada em sanduíches.
Ao contrário de capitais como São Paulo, repletas de opções neste segmento, o ramo de sanduicherias ainda é pouco desenvolvido em Porto Alegre.
Bem, se era este o caso, eles iriam precisar de um padeiro de mão cheia. Convidaram, então, Felipe Wurlitzer para se integrar ao time – formado no curso de Gastronomia da UFCSPA, o rapaz já tinha colaborado com padarias como Barbarella Bakery, The Public Market e Pãozeiro.
Parênteses: quando não está com a mão na massa, Felipe é percussionista da banda The Proud Beggars.
Atualmente, o Justo oferece três modalidades de sanduíches – porco à pururuca, almôndega e vegetariano.
Para diversificar o cardápio, foram agregadas opções como pizzas em pedaço (calabresa, marguerita e vegetais defumados) e pão na chapa (com cubo de manteiga ou ovo frito), além de porções de almôndegas.
Ainda era pouco. Os sócios perceberam que a casa não poderia se restringir aos salgados – desse modo, ao trio juntou-se o confeiteiro Alex Correa, criador do projeto nãosouchef, no qual inventa receitas autorais de doces batizadas de #chuparegime.
Nisso, apareceu o cervejeiro Tom Mendonça, igualmente formado na Gastronomia da UFCSPA, que é também horticultor urbano, com plantações de chás, temperos e hortaliças. Tom trouxe mais um sócio, o paraense Marcello Lima, fechando o sexteto de gestores do Justo.
Tudo certo – papelada assinada, chave na mão. Mas e o modelo de negócio?
– Até hoje, não colocamos no papel. Está tudo aqui dentro, diz Adelino, apontando a cabeça.
Na verdade, o Justo segue um modelo de negócio mais afeito à web, no qual as diretrizes das ações são constantemente atualizadas pela interação com os clientes.
– É como se fosse uma versão beta permanente, compara Adelino, referindo-se aos projetos que são disponibilizados ao público quando ainda se encontram em fase de desenvolvimento e testes.
Exemplos práticos?
A princípio, o horário de atendimento se estendia do meio dia às cinco da tarde.
Bastaram alguns dias com as portas abertas para que os rapazes percebessem que o movimento da casa ganhava fôlego lá pelo final da tarde.
Sem pestanejar, os sócios do Justo alteraram o horário de funcionamento, que passou a ser das cinco às dez e meia da noite.
Outra mudança foi a exclusão da salada avulsa do cardápio depois que ficou evidente a falta de apetite dos fregueses por hortaliças e legumes em separado.
Acima de tudo, o que define o projeto é a oferta de produtos de qualidade a preço acessível.
Por isso, o nome – Justo.
– A pessoa tem que sair daqui com a sensação de que investiu bem o seu dinheiro, confia Adelino.
Painel luminoso
Evidentemente, para essa matemática funcionar, foi preciso enxugar os custos.
Não à toa, um só garçom circula pela casa.
Ele anota pedidos, embora a maior parte dos clientes já tenha capturado a mensagem e solicite o prato desejado diretamente no caixa.
No ato, a pessoa recebe uma senha, que vai aparecer num painel luminoso quando a comida estiver pronta.
Finda a refeição, o cliente é incentivado por cartazes afixados na parede a deixar os pratos sujos num local previamente escolhido para isso.
– Apostamos que o público iria entender a proposta, e estávamos certos, comemora Adelino.
Além disso, o Justo trabalha com fornecedores que aceitam baixar preços em troca da exposição de suas marcas tanto nas redes sociais quanto no ambiente interno do restaurante.
É o caso da Panfácil, fabricante de farinha que abastece a casa com meia tonelada do insumo por mês.
Além da mídia gratuita, a Panfácil tem direito a vender a farinha diretamente aos clientes do Justo, posicionando o produto junto aos pães e doces caseiros exibidos no balcão do living de entrada.
Uma última dica: até 3 de junho, uma boa pedida é visitar o Justo Pop Up, posto avançado do restaurante no segundo piso da Cinemateca Capitólio, na esquina da Borges de Medeiros com a Rua Demétrio Ribeiro.
Ficará ali enquanto estiver se desenrolando a programação do Fantaspoa – festival de cinema dedicado a filmes do gênero fantástico –, de terça a domingo, das 13h às 21h 30min.
Desativado há alguns meses, o bar do Capitólio terá aberto edital em breve para indicação de um novo administrador e é bem provável que o Justo participe da seleção.
Justo
Avenida Borges de Medeiros, 741
Altos da escadaria do Viaduto Otávio Rocha – Centro Histórico
De segunda a sábado, das 17h às 22h30