Bottons da resistência

Há quase 30 anos, a Free Bottons usa a criatividade para apoiar causas sociais e a luta pela liberdade de manifestação

A pluralidade de expressões culturais e o acompanhamento dos movimentos sociais marcam a trajetória do projeto criado no começo dos anos 1990

A pluralidade de expressões culturais e o acompanhamento dos movimentos sociais marcam a trajetória do projeto criado no começo dos anos 1990

A parceria ganha harmonia num jogo de opostos. Roni Silva gosta de ficar em casa produzindo os bottons, bem sossegado. Já Marcelo Roncato, sempre inquieto, prefere frequentar ambientes agitados de praças e ruas para vender as peças, que ele ajuda a criar com ideias inspiradas no contato direto com o público.

Juntos, Roni e Marcelo formam a Free Bottons, marca que está ao lado do Rua da Margem no projeto de financiamento coletivo do livro Rua da Margem – Histórias de Porto Alegre, que tem lançamento agendado para o dia 8/11 na Feira do Livro e no bar Guernica, na Cidade Baixa. Entre as recompensas aos apoiadores, que investem valores entre R$ 10 e R$ 70, a vaquinha eletrônica oferece os produtos da Free Bottons com o logo do Rua da Margem.

Roni tinha largado o emprego de fotoliteiro na gráfica Maredi no começo dos anos 1990 quando começou a fazer bottons para manifestações políticas como a do impeachment de Fernando Collor de Mello, em 1992. Na época, chegou a criar 5 mil peças com o slogan “Fora Collor!”. Depois disso, não parou mais de produzir, contando por um tempo com a parceria de Nilton Bem, amigo e vizinho do bairro Partenon, com o qual entregou 600 mil bottons em 1994 para as campanhas de Fernando Henrique Cardoso, Antônio Britto e Roseana Sarney.

Nilton (à esq.) e Marcelo, da Free Bottons: estampas acompanham a agenda política

Nilton (à esq.) e Marcelo, da Free Bottons: estampas acompanham a agenda política

Por sua vez, Marcelo foi bancário e se envolveu com teatro, na década de 1980, atuando como ator de peças como Os Sobrinhos do Capitão, dirigida por Nelsinho Magalhães (trabalhou também ao lado de Antônio Carlos Falcão e Ilana Kaplan, entre outros nomes das artes cênicas). Ainda carregou bandejas no Dado Bier em Porto Alegre e São Paulo e foi proprietário de bar na praia de Arraial D’Ajuda (distrito de Porto Seguro), na Bahia.

Em paralelo às múltiplas atividades, o rapaz sempre se dedicou à serigrafia, produzindo camisetas, bandeiras e adesivos, principalmente no período de crescimento da popularidade do PT, na década de 1990.

Em 2018, Roni e Marcelo passaram a trabalhar juntos na Free Bottons a partir da campanha de Fernando Haddad para a Presidência da República.

— Quando Jair Bolsonoro ganhou, fiquei triste, mas previ que passaríamos a vender muito mais, já que os protestos iriam aumentar. Não deu outra, afirma Marcelo.

Atualmente, as vendas superam 2 mil peças por mês. Os bottons são expostos em feiras, festas de ruas e, principalmente, manifestações “que lutam pela pluralidade de ideias e o bem social”, afirma Marcelo, que ainda arruma tempo para estudar Geografia na UFRGS. A temática das estampas acompanha a agenda dos protestos – temas como Mujica, SOS Amazônia, Bacurau (o filme), defesa da educação, feminismo, luta LGBT e antirracista etc. se alternam de acordo com o noticiário da semana e a conjuntura política do País. Aparecem nas estampas também ícones culturais como Frida Kahlo, Angela Davis e a Nega Lu, homossexual negro que criou fama como precursor de novos comportamentos na capital gaúcha entre os anos 1960 e 1990.

Em tempo: os bottons são vendidos em postos fixos – na Banca 15 da Loja da Reforma Agrária no Mercado Público, no Centro Histórico, e na Livraria Cirkula, na Avenida Osvaldo Aranha. Estão disponíveis ainda na Banca do Alemão Nereu, na Esquina Democrática durante os dias de semana e em frente ao Escaler aos sábados e domingos.

Paulo César Teixeira