Museu de Porto Alegre pede socorro
Principal instituição de preservação da memória da cidade está há mais de 100 dias sem direção e é alvo de furtos e atos de vandalismo
O Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo, responsável pela preservação da memória da Capital. está em situação de risco.
Nesta segunda-feira, 19/4, o Museu completou 114 dias sem contar com uma direção instituída. O cargo está vago desde que a historiadora Letícia Bauer saiu para dirigir o Memorial do Rio Grande do Sul, em 5 de janeiro deste ano.
Além de estar acéfalo há três meses e meio, o Museu localizado na Rua João Alfredo, nº 582, na Cidade Baixa, vem sendo alvo de furtos e atos de vandalismo. Em 2021, já foram registrados quatro Boletins de Ocorrência na polícia.
— Para além das dificuldades de ordem técnica que a falta de direção acarreta para um museu, a aparência de abandono certamente estimula a ação de ladrões e vândalos — afirma João de los Santos, presidente da Associação de Amigos do Museu de Porto Alegre.
Na noite de domingo, 18/4, invasores roubaram a unidade externa do aparelho de ar condicionado. No dia 29 de março passado, já haviam sido furtados os fios de cobre do equipamento. Placas comemorativas de datas e eventos do Museu também desapareceram em 16 de abril. Antes disso, a sequência de ataques tinha começado com o sumiço do registro de consumo de água do DMAE (já substituído) no jardim, em 19 de fevereiro. Até a grade sobre o túnel de drenagem da água da chuva foi levada.
Clique nas imagens abaixo para visualizar alguns dos danos causados ao Museu até o momento.
Atualmente, o Museu de Porto Alegre conta com sete servidores, dos quais três que fazem parte de grupos de risco da covid-19 estão em home office e outros quatro se revezam, em regime de plantão, para atendimento externo às segundas, quartas e sextas-feiras.
— Cada vez que chegamos, encontramos uma desgraça. O temor é deparar, qualquer dia, com as criaturas dentro do casarão — diz um funcionário, que prefere não se identificar.
Já vai longe o tempo em que o Museu contava com segurança fixa. A função de proteger o prédio, hoje, é desempenhada pela Guarda Municipal por meio de patrulhas ao longo da madrugada.
Além das questões de segurança, a desatenção ao Museu não poupa sequer a mais que centenária magnólia, símbolo do prédio histórico – no século 19, o casarão era conhecido como Solar da Magnólia. Listada entre as árvores imunes ao corte do município, ela está tomada por ervas de passarinho, que poderão causar prejuízos irremediáveis, caso não haja intervenção dos técnicos da Secretaria Municipal do Meio Ambiente.
Inaugurado, em 1855, o Solar da Magnólia foi a casa de veraneio do comerciante português Lopo Gonçalves, um dos homens mais influentes da Capital no século 19. Além de fundador da Associação Comercial de Porto Alegre, elegeu-se duas vezes para a Câmara de Vereadores.
Lopo Gonçalves se refugiava com a família durante o verão na chácara da antiga Rua da Margem (atual João Alfredo), à beira do Riacho Dilúvio, que, à época, passava em frente e, inclusive, abastecia de água potável o casarão.
Restaurado e transformado em museu em 1982, o solar conta com acervo de 9 mil fotografias dos séculos 19 e 20, além de 400 antigos cartões postais. Já a coleção arqueológica abarca 200 mil registros da ocupação indígena anterior à colonização portuguesa, como peças de louça, cerâmica, vidro, metal, couro e pedra.
Antes da pandemia, o Museu recebia 20 mil visitantes por ano, boa parte deles formada por estudantes em visitas guiadas. Além de preservar o passado, dialogava com o presente ao abrigar apresentações musicais, sessões de cinema, exposições fotográficas e eventos de gastronomia na extensa área verde de 2,5 mil metros quadrados do pátio externo.
O presidente da Associação dos Amigos do Museu ressalta que a situação da instituição requer ações urgentes, ainda mais levando em consideração que, em 2022, como casa da memória da Capital, o Museu deverá cumprir papel relevante na comemoração dos 250 anos de Porto Alegre.
— Os atuais gestores da cultura de Porto Alegre são pessoas abertas ao diálogo e temos ciência de que assumiram suas funções com muitas pendências deixadas pela administração anterior. Só que já se passaram mais de 100 dias e estamos numa situação-limite na qual é preciso garantir pelo menos a segurança física do Museu — conclui João de los Santos.
Rua da Margem buscou contato com a Secretaria Municipal de Cultura ao longo da tarde de 19/4, sem obter retorno. Abrirá espaço para a manifestação da pasta, assim que ela se pronunciar.