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A noite em que Eduardo Galeano deu uma banda no antigo e lendário Bar do Beto

Rua da Margem reconstituiu a história que está por trás da imagem capturada pelo fotógrafo Eduardo Luiz Achutti numa noite de novembro de 1985, no antigo e lendário Bar do Beto, um dos botecos mais cults de Porto Alegre na década de 1980.

Na imagem, o escritor uruguaio Eduardo Galeano mira a lente de Achutti ao caminhar por entre as mesas apinhadas de frequentadores assíduos do barzinho, à época localizado na esquina da Avenida Venâncio Aires com a Rua Vieira de Castro, no bairro Farroupilha.

— Fiz a foto como um híbrido de fã e colega de bar. Por isso, ela ganhou uma abordagem franca e direta — diz Achutti, que vai completar meio século de carreira no fotojornalismo em 2025.

A conversa com Galeano se estendeu madrugada adentro.

— Esperávamos encontrar um intelectual indignado e furioso, como era a maioria dos intelectuais engajados daquele tempo, mas fomos surpreendidos por uma figura doce, que encantou a todos com as histórias que contava — diz Duda (hoje professora de Português na Universidade de Siena, na Itália).

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Casa viva

No cenário da Cidade Baixa, bairro de Porto Alegre onde sobrevivem resquícios de uma vida simples e despojada, aquele senhor não se constrangia ao sair para a rua com as roupas confortáveis que usava em casa, mesmo que fosse para cumprir compromissos que, teoricamente, exigiam alguma formalidade.

Quando recebeu uma homenagem na Fundação Ecarta, na Avenida João Pessoa, por exemplo, não achou preciso tirar o chambre – apenas envergou por cima um pala para se proteger do frio.

Não é de admirar que adotasse a mesma indumentária em atividades menos solenes, como almoçar no pé-sujo da Rua Lima e Silva, a dois quarteirões de casa. Neste caso, agregava um par de rústicos tamancos, daqueles típicos do homem do campo, que, afinal de contas, ele nunca deixou de ser.

Estamos falando de Diógenes Oliveira, figura de carne e osso que foi protagonista de alguns dos momentos históricos mais ricos e conturbados da história do Brasil.

Diógenes participou da Campanha da Legalidade, pegou em armas para combater o regime militar instaurado em 1964, foi preso e torturado nos porões da ditadura e passou por quase uma dezena de países durante o exílio, que durou 23 anos.

Agora, dá nome ao mais novo Ponto de Cultura aberto na Cidade Baixa, mais precisamente na Rua Lopo Gonçalves, 495, endereço em que morou durante 36 anos.

— Meu pai foi um guerreiro, que enfrentou condições completamente adversas e se manteve íntegro pela vida toda – afirma o jornalista Guilherme Oliveira, de 36 anos, responsável (junto com o irmão, o advogado Rodrigo, dois anos mais velho) pela ideia de transformar o sobrado da Lopo Gonçalves no Ponto de Cultura Diógenes Oliveira.

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A avó dos hippies

Lá pela metade dos anos 1970, um bando de jovens cabeludos bateu à porta de uma casa na Rua Tiradentes, no bairro Floresta, em Porto Alegre. Quase todos vestiam túnicas de algodão e calçavam sandálias de couro, acompanhando a moda hippie da época. Estavam atrás de uma senhora que, naquele endereço, fazia mapa astral e ensinava astrologia – àquela altura, o tema já fazia parte das conversas cotidianas da galera.

Com mais de 10 mil mapas astrológicos produzidos ao longo de 78 anos de existência, Emma de Mascheville, a dona Emy, desenvolveu uma doutrina sobre a relação do cosmos com a vida humana com um olhar pessoal e intransferível, com base não apenas em estudos teóricos, mas, principalmente, a partir da própria vivência, repleta de acontecimentos inesperados e desafiadores.

Parte da vida e do pensamento de Emma de Mascheville está reunida no livro O Que o Céu e os Homens Me Ensinaram – Astrologia Para a Era de Aquário, edição independente organizada por Amanda Costa, com produção editorial de Antonio Carlos Bola Harres (ambos discípulos de dona Emy).

Não bastasse ter formado uma geração de astrólogos – além de Bola e Amanda, dela também fazem parte Graça Medeiros, Lídia Fontoura, Cláudia Lisboa e Fábio Mentz, entre outros –, dona Emy contribuiu para o engrandecimento da vida espiritual e cultural de Porto Alegre, graças à dimensão singular de sua figura humana.

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Histórias do samba rock

Delma Gonçalves e Leleco Telles (falecido em 2004) são personagens centrais de uma rica história da cultura popular, que será o tema do Conversa de Rua – Memórias e Releituras do Suingue e Samba Rock do Sul, evento que acontece neste sábado, dia 23/setembro, a partir das 9 da noite, no bar Milonga, na Travessa dos Venezianos, na Cidade Baixa.

As canções e as histórias de vida do suingue – gênero criado por artistas negros gaúchos, na década de 1960 – serão cantadas e contadas por Delma, poetisa e compositora, junto com a cantora Joice Mara e o violonista Pedro Chaves. A condução é do jornalista Paulo César Teixeira, do Rua da MargemDelma e Leleco foram parceiros musicais de Jorge Moacir da Silva, o Bedeu, principal expoente do suingue, que mistura elementos tradicionais do samba com influências da música internacional, como rock, jazz e blues. 

Ele é autor de canções de sucesso nacional na voz de artistas como Bebeto, Wilson Simonal, Originais do Samba, Branca di neve, Jair Rodrigues, Fernanda Abreu. Ultramen e Clube do Balanço, a exemplo de Menina Carolina (com Leleco), Grama Verde e Saudades de Jackson do Pandeiro (essa com Luís Vagner).

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No balanço do suingue

— Por incrível que pareça, muita gente que mora em São Paulo e no Rio de Janeiro acredita que não existem negros no Rio Grande do Sul. De certa forma, a cultura negra do Sul é desconhecida até para quem vive aqui. É como se fôssemos invisíveis.

A constatação é de Kau Azambuja, um dos principais nomes da música negra sulista (fez parte de bandas como Produto Nacional e Senzala), que vai participar do Conversa de Rua neste sábado, 19/agosto, no Milonga, bar da Travessa dos Venezianos, na Cidade Baixa.

A iniciativa é do Rua da Margem, com a mediação do jornalista Paulo César Teixeira, editor do portal. No bate-papo, Kau vai relembrar a sua trajetória de vida e arte e dar canjas musicais.

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Museu de Porto Alegre pede socorro

O Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo, responsável pela preservação da memória da Capital. está em situação de risco.

Nesta segunda-feira, 19/4, o Museu completou 114 dias sem contar com uma direção instituída. O cargo está vago desde que a historiadora Letícia Bauer saiu para dirigir o Memorial do Rio Grande do Sul, em 5 de janeiro deste ano.

Além de estar acéfalo há três meses e meio, o Museu localizado na Rua João Alfredo, nº 582, na Cidade Baixa, vem sendo alvo de furtos e atos de vandalismo. Em 2021, já foram registrados quatro Boletins de Ocorrência na polícia.

— Para além das dificuldades de ordem técnica que a falta de direção acarreta para um museu, a aparência de abandono certamente estimula a ação de ladrões e vândalos — afirma João de los Santos, presidente da Associação de Amigos do Museu de Porto Alegre.

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Livro do Rua da Margem ganha Prêmio AGES 2020

O livro Rua da Margem – Histórias de Porto Alegre, de Paulo César Teixeira, editor do portal Rua da Margem, ganhou o Prêmio AGES 2020, da Associação Gaúcha de Escritores, na categoria Não-Ficção. Neste ano, a premiação contou com 157 inscritos. Em função da pandemia, a cerimônia de entrega aos vencedores foi realizada no formato on-line. em 30/11.

Rua da Margem – Histórias de Porto Alegre traz à tona uma Porto Alegre que pouco aparece por aí – a cidade do Barão da João Alfredo, do Ildo da Lanchera, do Sid do Bambu’s, da cantora Valéria, do Pé Palito, do seu Cláudio do Parangolé. Uma cidade plural e diversa, vaidosa de sua história e aberta à cena contemporânea.

— Estamos muito felizes e envaidecidos com a premiação. O livro está em sintonia com a ideia do portal Rua da Margem de destacar personagens e cenários de Porto Alegre que não aparecem com frequência na mídia mais tradicional — afirmou Paulo César, ao receber a premiação.

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Mapa de humanidades

Fotos que vivi: Achutti 45 anos, livro digital lançado pela Ponto UFRGS (loja de produtos institucionais da Universidade), reconstitui a trajetória profissional de Achutti, hoje com 61 anos, que é também antropólogo e professor da UFRGS.

Como repórter-fotográfico, Achutti publicou em veículos como Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo, Coojornal e IstoÉ, nas décadas de 1970 e 1980 – em 1987, chegou a criar sua própria agência de fotografias para prestar serviços a jornais e revistas.

A partir dos anos 1990, passou a dar prioridade a exposições e livros, registrando flashes de vivências e incursões a países como Cuba, Nicarágua, Alemanha e França, além de se dedicar à carreira acadêmica.

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Um “bah!” com sotaque francês

Se alguém fosse descrever essa andarilha de múltiplos talentos e atividades, bem que poderia resumir:

— É uma francesa que diz “bah!” no Rio de Janeiro.

Pelo menos é o que sugere o livro de estreia de Charlotte Dafol, Como Num Romance, um relato da temporada de 18 meses (entre 2017 e 2018) no Rio de Janeiro da escritora, cantora, violonista, cineasta, fotógrafa, desenhista e ativista social nascida em Paris, em 1987, atualmente radicada em Porto Alegre.

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Heróis da resistência

Na terça-feira, dia 19/5, data de publicação do decreto da prefeitura de Porto Alegre que liberou a reabertura de bares e restaurantes, com restrições de distanciamento social por causa da covid-19, o Brasil ultrapassou pela primeira vez a marca de mil mortos no período de 24 horas por causa da pandemia.

Ainda que a Capital do RS apresente indicadores de um controle mais efetivo do avanço do novo coronavírus, em comparação com outras cidades brasileiras, principalmente das regiões Norte, Nordeste e Sudeste, uma parcela considerável de bares se recusou a voltar às atividades, apesar das dificuldades financeiras decorrentes do período de dois meses de quarentena.

Na lista dos que adotaram essa atitude, impressiona não apenas a quantidade, mas principalmente a representatividade dos estabelecimentos na cena noturna porto-alegrense.

— Vamos esperar para ver como essa abertura vai se refletir do ponto de vista epidemiológico. No momento, prudência é uma boa medida, até porque ainda não há clima para a boemia — diz Pepe Martini, que dirige o bar Guernica, junto com o pai, Roni, na Travessa dos Venezianos, na Cidade Baixa.

Outro bar que prosseguirá em compasso de espera é o Parangolé, referência de música ao vivo na Cidade Baixa.

— Apesar da situação relativamente tranquila em Porto Alegre, temos que pensar no restante do País, que mostra um quadro assustador — afirma Cláudio Soares de Freitas, o seu Cláudio, dono do Parangolé.

No dia da publicação do decreto, ele fez uma reunião online com a esposa Marta e os filhos (a jornalista Ana Laura e o violonista Thiago). A família decidiu por unanimidade não abrir o bar, entre outros motivos, para proteger Cláudio, que, apesar da saúde de ferro, aos 66 anos faz parte do grupo de risco da covid-19 por conta da idade.

— É verdade que não apresento doenças pré-existentes, mas até gente jovem tem morrido. De minha parte, não estou disposto a brincar com o vírus — pondera Cláudio.

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Ensaios da quarentena

Histórias da quarentena em Porto Alegre, com Edu K, Fernanda Carvalho Leite, a Fê, Marcelo Nunes e Bebê Baumgarten. Relatos de delicadeza, descobertas, apreensões e mudança de hábitos no isolamento social em meio à pandemia da Covid-19.

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Gente da noite

Pequenino, ele se move como uma usina de alegria e empatia há mais de duas décadas pela noite de Porto Alegre.

Desde o Ritrovo e o Pier 174, cafés pioneiros da calçada da Rua da República, na Cidade Baixa, passando pelo inesquecível Entreato, até o lendário Bar do Nito, no Moinhos de Vento, no qual atualmente exerce a gerência, César Augusto Peixoto da Silveira, o Guto, de 50 anos, só trabalhou em bares que marcaram época na boemia da Capital.

Com a larga experiência adquirida, Guto é a pessoa indicada para citar os principais atributos para se trabalhar à noite:

— Precisa ter comunicação, ser pró-ativo e manter a cabeça fria, principalmente nas horas críticas.

Nada disso vai dar bom resultado se a criatura não curtir a noite. Além de fonte de subsistência, a boemia sempre foi alvo de diversão para Guto. Aliás, no velho Ritrovo, a certa altura da noite, diante da insistência do público em não arredar pé, ele sabia como resolver o impasse. Não foram poucas as vezes que retirou o avental e convidou os clientes para perambular junto com ele por outros bares, que ficavam de portas abertas madrugada adentro.

— Era o único jeito de fechar o bar — conta Guto, com ar divertido.

Por essas e outras, Guto cativa o público boêmio de Porto Alegre há tanto tempo, sempre com altas doses de simpatia e camaradagem.

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O anfitrião de Porto Alegre

Eduardo Titton, de 33 anos, criador de três bares que estão em qualquer lista dos mais inovadores de Porto Alegre – Agulha, Linha e Vasco da Gama, 1020 –, prepara-se para lançar um quarto projeto na noite da Capital: uma vermuteria no 4º Distrito.

Aberto em agosto de 2017, em sociedade com o mano Fernando, o Agulha é, atualmente, o principal palco das vertentes contemporâneas da música popular em Porto Alegre.

O Linha conta com bar e espaço para sessões de cinema, performances de dança, oficinas e workshops, além de ateliês individuais e compartilhados para artistas visuais.

Em parceria com o chef Mauri Olmi, Eduardo, Fernando e Bruna se preparam para abrir uma vermuteria a uma quadra do Linha, no cruzamento da Rua Moura Azevedo com a Avenida Presidente Roosevelt, em prédio construído em 1917, que fica em frente à antiga sede do Clube Sociedade Gondoleiros.

Eduardo jura de pés juntos que a vermuteria é o último negócio a ser posto em prática. Ah, espera aí, ele lembrou agora de mais uma ideia que está na gaveta – o projeto de uma livraria. Não conta para ninguém, mas já andou até batendo pernas pelo Bom Fim à procura de um imóvel, tudo por conta da vontade de criar espaços de boa convivência e cultura de qualidade. Porto Alegre agradece.

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O traço do anarquista

— Às vezes, bate um medo quando começo a desenhar. Fico pensando em milícias e outras forças do submundo que podem agir por aí. Eu não imaginava que pudéssemos regredir tanto.

A afirmação foi feita pelo cartunista Neltair Rebés Abreu, o Santiago, ao participar do lançamento do livro Rua da Margem – Histórias de Porto Alegre, no bar Parangolé, no sábado dia 14/dezembro. Personagem de um dos capítulos da obra, Santiago foi entrevistado pelo autor, o jornalista Paulo César Teixeira, editor do Rua da Margem.

Com 18 livros publicados e dezenas de prêmios acumulados ao longo da carreira, o desenhista colabora atualmente com os jornais Extra Classe, do Sinpro/RS (Sindicato dos Professores da Rede Privada) e João de Barro, da APCEF (Associação do Pessoal da Caixa Econômica Federal), além da revista do CREA/RS (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia). Os cartuns de Santiago estão presentes também no Brasil de Fato RS, publicação que acaba de lançar edição especial de humor.

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Gente da noite

Quem olha a figura com ares alternativos, que atende os clientes do bar I Love CB, nem desconfia que ali está um trabalhador experiente e calejado. Carlos Eduardo Caldeira Medronha, o Dudu, de 34 anos, ganha a vida em bares da Cidade Baixa desde 2002. Nem deu para sentir o tempo correr, mas metade da vida ele passou como operário da noite porto-alegrense.

O currículo é invejável – com carteira assinada ou como freelancer, ele passou pelo 8 e Meio, Pé Palito, Bahamas, Yang, Funilaria, Tapas, Entreato... Ufa, a lista é longa – de quebra, ainda serviu almoço no Ocidente por algum tempo. Difícil é apontar qual o bar relevante da CB que não contou com os préstimos do rapaz.

Como quase todo mundo que trabalha na noite, Dudu sonha montar, no futuro, um boteco que reúna as qualidades de cada um dos locais que ajudou a construir.

— Um dia vou fazer o melhor bar de Porto Alegre, diz, rindo em seguida, como se reprovasse a audácia da frase que acabou de proferir.

Ele tem até um caderninho no qual vai anotando detalhes de bebida, comida e decoração que não poderão faltar, mas isso é segredo, como também não dá para adiantar os nomes que especula para a futura casa.

— Sabe como é, alguém pode copiar, justifica ele, pedindo licença para atender a freguesia que, a essa altura, já ocupa com alegria e intimidade o espaço aconchegante do I Love CB.

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Temporada no Sul

Filho de Taiguara, um dos compositores brasileiros mais destacados entre as décadas de 1960 e 1980, o carioca Samora Potiguara, de 37 anos, aproveita temporada na casa de parentes em Porto Alegre para mostrar seu trabalho musical nos bares da Cidade Baixa. Na sexta-feira, 18/10, por exemplo, ele faz show de voz e violão no bar Guernica, na Travessa dos Venezianos, 44, apresentando uma mistura original de MPB e soft rock e, claro, revisitando sucessos do pai.

Embora resguarde a consciência crítica acerca do mundo em que vive, a exemplo da obra de Taiguara, as canções de Samora apontam para múltiplas referências, que incluem desde a universalidade do som dos Beatles até o estilo progressivo de The Alan Parsons Project, passando pelo rock alternativo de Pearl Jam e bandas brasileiras dos anos 1980 como Barão Vermelho, Legião Urbana e Ira!.

— Fora isso, tenho a pretensão de agregar à música que faço elementos percussivos do candombe uruguaio e de outros batuques originários da África sem perder a pegada pop. A meu ver, o rock nada mais é do que a evolução de um processo musical que tem início na cultura africana.

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O bofe nas vilas de malocas

A homossexualidade masculina foi um dos argumentos usados como justificativa para a transferência da população pobre de Porto Alegre de áreas centrais para a periferia da cidade no século passado.

Essa é a afirmativa do historiador Rodrigo Weimer após estudar dados de um relatório administrativo sobre as “vilas das malocas” (hoje denominadas favelas) apresentado em 1952 pela prefeitura da capital gaúcha na Câmara de Vereadores. A conclusão é exposta por Weimer em artigo publicado há pouco mais de um mês pela revista Aedos, do PPG em História da UFRGS.

O relatório elaborado durante a gestão do prefeito Ildo Meneghetti aponta evidências de alcoolismo, prostituição e comportamento sexual não-normativo como exemplos de “sujeira moral”, “quisto social” e “situação anômala” no cotidiano dos favelados, o que teria servido de argumento e pretexto para a posterior expulsão dos “maloqueiros” para áreas distantes do Centro. Textualmente, o documento histórico afirma que casos “palpáveis surgiram à tona durante a pesquisa, demonstrando que, se bem que em extremos, até que ponto pode chegar a imoralidade nesses grupamentos humanos”.

— Constata-se que, sob um viés moralista e uma visão preconceituosa, a sexualidade desviante foi considerada abjeta e, mais do que isso, aproximada à realidade da “maloca”, ela, também, impregnada de atributos pejorativos, destaca Weimer.

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As cores do invisível

Nos anos que sucederam a abolição da escravatura no Brasil, em 1888, os negros que haviam se libertado do jugo de seus senhores coexistiram em áreas pobres e degradadas de Porto Alegre com imigrantes europeus, não apenas italianos e alemães, mas também judeus, pomeranos e poloneses.

Como eram as relações entre essas duas populações de trabalhadores é o tema de Além da Invisibilidade: História Social do Racismo em Porto Alegre durante o Pós-Abolição (EST Edições), livro lançado no dia 5/7 pelo historiador Marcus Vinícius de Freitas Rosa.

Uma das descobertas da investigação é a de que, mesmo entre populações pobres, a discriminação por causa da cor se sobrepunha ao nivelamento social, como destaca o historiador:

— A pele branca era um trunfo para os trabalhadores pobres de origem europeia, ainda que fossem todos, brancos e negros, miseráveis, morando à beira de um riacho imundo. É como se dissessem: “Pelo menos, somos brancos”.

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