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Gente da noite

Pequenino, ele se move como uma usina de alegria e empatia há mais de duas décadas pela noite de Porto Alegre.

Desde o Ritrovo e o Pier 174, cafés pioneiros da calçada da Rua da República, na Cidade Baixa, passando pelo inesquecível Entreato, até o lendário Bar do Nito, no Moinhos de Vento, no qual atualmente exerce a gerência, César Augusto Peixoto da Silveira, o Guto, de 50 anos, só trabalhou em bares que marcaram época na boemia da Capital.

Com a larga experiência adquirida, Guto é a pessoa indicada para citar os principais atributos para se trabalhar à noite:

— Precisa ter comunicação, ser pró-ativo e manter a cabeça fria, principalmente nas horas críticas.

Nada disso vai dar bom resultado se a criatura não curtir a noite. Além de fonte de subsistência, a boemia sempre foi alvo de diversão para Guto. Aliás, no velho Ritrovo, a certa altura da noite, diante da insistência do público em não arredar pé, ele sabia como resolver o impasse. Não foram poucas as vezes que retirou o avental e convidou os clientes para perambular junto com ele por outros bares, que ficavam de portas abertas madrugada adentro.

— Era o único jeito de fechar o bar — conta Guto, com ar divertido.

Por essas e outras, Guto cativa o público boêmio de Porto Alegre há tanto tempo, sempre com altas doses de simpatia e camaradagem.

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Gente da noite

Quem olha a figura com ares alternativos, que atende os clientes do bar I Love CB, nem desconfia que ali está um trabalhador experiente e calejado. Carlos Eduardo Caldeira Medronha, o Dudu, de 34 anos, ganha a vida em bares da Cidade Baixa desde 2002. Nem deu para sentir o tempo correr, mas metade da vida ele passou como operário da noite porto-alegrense.

O currículo é invejável – com carteira assinada ou como freelancer, ele passou pelo 8 e Meio, Pé Palito, Bahamas, Yang, Funilaria, Tapas, Entreato... Ufa, a lista é longa – de quebra, ainda serviu almoço no Ocidente por algum tempo. Difícil é apontar qual o bar relevante da CB que não contou com os préstimos do rapaz.

Como quase todo mundo que trabalha na noite, Dudu sonha montar, no futuro, um boteco que reúna as qualidades de cada um dos locais que ajudou a construir.

— Um dia vou fazer o melhor bar de Porto Alegre, diz, rindo em seguida, como se reprovasse a audácia da frase que acabou de proferir.

Ele tem até um caderninho no qual vai anotando detalhes de bebida, comida e decoração que não poderão faltar, mas isso é segredo, como também não dá para adiantar os nomes que especula para a futura casa.

— Sabe como é, alguém pode copiar, justifica ele, pedindo licença para atender a freguesia que, a essa altura, já ocupa com alegria e intimidade o espaço aconchegante do I Love CB.

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O bofe nas vilas de malocas

A homossexualidade masculina foi um dos argumentos usados como justificativa para a transferência da população pobre de Porto Alegre de áreas centrais para a periferia da cidade no século passado.

Essa é a afirmativa do historiador Rodrigo Weimer após estudar dados de um relatório administrativo sobre as “vilas das malocas” (hoje denominadas favelas) apresentado em 1952 pela prefeitura da capital gaúcha na Câmara de Vereadores. A conclusão é exposta por Weimer em artigo publicado há pouco mais de um mês pela revista Aedos, do PPG em História da UFRGS.

O relatório elaborado durante a gestão do prefeito Ildo Meneghetti aponta evidências de alcoolismo, prostituição e comportamento sexual não-normativo como exemplos de “sujeira moral”, “quisto social” e “situação anômala” no cotidiano dos favelados, o que teria servido de argumento e pretexto para a posterior expulsão dos “maloqueiros” para áreas distantes do Centro. Textualmente, o documento histórico afirma que casos “palpáveis surgiram à tona durante a pesquisa, demonstrando que, se bem que em extremos, até que ponto pode chegar a imoralidade nesses grupamentos humanos”.

— Constata-se que, sob um viés moralista e uma visão preconceituosa, a sexualidade desviante foi considerada abjeta e, mais do que isso, aproximada à realidade da “maloca”, ela, também, impregnada de atributos pejorativos, destaca Weimer.

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