Casa viva

novo Ponto de Cultura da Cidade Baixa, em Porto Alegre, homenageia Diógenes Oliveira, protagonista da história recente do país

Sobrado em que Diógenes viveu durante 36 anos agora abriga eventos de música, poesia, dança, gastronomia e reflexão política ( Fotos/Divulgação)

No cenário da Cidade Baixa, bairro de Porto Alegre onde sobrevivem resquícios de uma vida simples e despojada, aquele senhor não se constrangia ao sair para a rua com as roupas confortáveis que usava em casa, mesmo que fosse para cumprir compromissos que, teoricamente, exigiam alguma formalidade.

Quando recebeu uma homenagem na Fundação Ecarta, na Avenida João Pessoa, por exemplo, não achou preciso tirar o chambre – apenas envergou por cima um pala para se proteger do frio.

Não é de admirar que adotasse a mesma indumentária em atividades menos solenes, como almoçar no pé-sujo da Rua Lima e Silva, a dois quarteirões de casa. Neste caso, agregava um par de rústicos tamancos, daqueles típicos do homem do campo, que, afinal de contas, ele nunca deixou de ser.

Estamos falando de Diógenes Oliveira, figura de carne e osso que foi protagonista de alguns dos momentos históricos mais ricos e conturbados da história do Brasil.

Diógenes vivenciou alguns dos momentos mais marcantes da política brasileira no final do século 20

Diógenes participou da Campanha da Legalidade, pegou em armas para combater o regime militar instaurado em 1964, foi preso e torturado nos porões da ditadura e passou por quase uma dezena de países durante o exílio, que durou 23 anos.

Agora, dá nome ao mais novo Ponto de Cultura aberto na Cidade Baixa, mais precisamente na Rua Lopo Gonçalves, 495, endereço em que morou durante 36 anos.

— Meu pai foi um guerreiro, que enfrentou condições completamente adversas e se manteve íntegro pela vida toda – afirma o jornalista Guilherme Oliveira, de 36 anos, responsável (junto com a família e o músico e sociólogo Ciro Ferreira) pela ideia de transformar o sobrado da Lopo Gonçalves no Ponto de Cultura Diógenes Oliveira.

O espaço foi aberto em setembro deste ano e, desde lá, abrigou três edições do evento Flor del Pago.

Com a curadoria de Ciro, a reunião mensal combina música, dança, recital de poesias e gastronomia, com ênfase em aspectos da cultura do Rio Grande do Sul e de países vizinhos, como Uruguai e Argentina. Afora isso, rola muita conversa sobre a vida e a política, sempre inspiradas pela figura do antigo proprietário da casa.

— Quem entra nessa casa se sente parte da história do Brasil e da América Latina. Aqui, se respira memória, assim como se respira o ar da rua – sublinha a uruguaia Rosa Beltrame, que também foi prisioneira política, só que em seu país de origem.

Rapel no corrimão da escada

Apesar de ser uma lenda na história política do país, Diógenes - que morava sozinho nos últimos anos de vida - era uma figura bastante acessível na Cidade Baixa, com hábitos curiosos, quase folclóricos, que chamavam atenção da vizinhança.

Cedinho da manhã, gostava de postar-se na varanda da casa, a poucos metros da calçada, para conversar em altos brados com amigos pelo celular. Não é preciso dizer que acordava boa parte dos vizinhos.

Era visto também com frequência no jardim, podando as plantas, com um chapéu de estilo vietcongue na cabeça, se bem que, neste caso, mais do que gosto pessoal, a opção tinha cunho ideológico.

O desejo irrefreável de preservar ao máximo a autonomia era outra faceta de sua personalidade, mesmo depois de estar com a saúde debilitada. Para isso, misturava doses de pragmatismo e engenhosidade. Foi assim quando amarrou uma corda de rapel no corrimão para ter onde se agarrar ao descer a escada do sobrado e, desse modo, não correr nenhum risco de despencar lá de cima.

— Não se preocupem, estou seguro — dizia Diógenes, para tranquilizar os familiares.

Flor del Pago: eventos mensais de música, dança, poesia e reflexão política

Na casa da Lopo Gonçalves, promovia tertúlias, saraus ou simples jantares, sempre com pratos especiais que preparava com as próprias mãos.

— Para ele, a linguagem do afeto perpassava pela barriga. Seduzia com o fogão — explica a nora Manoela Flôres Soares.

As reuniões serviam para celebrar datas especiais, como a do 25 de abril, que marcou a Revolução dos Cravos, de Portugal, em 1974.

Os convidados eram integrantes do MST (Movimento dos Sem Terra) e do MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores). Além, é claro, a velha guarda da esquerda, com quem dividiu uma vida dedicada à política.

Os jantares também propiciavam acalorados debates, como a controvérsia sobre quem tinha mais viés progressista – chimangos ou maragatos (rivais da Revolução Federalista, de 1923).

— Um bom número de companheiros tinha uma queda por Júlio de Castilhos {líder dos chimangos}, em função da defesa da industrialização que os positivistas faziam. Mas eu e o Diógenes sempre nutrimos simpatia pelos maragatos — conta um dos amigos mais próximos, Luiz Fernando Barrios, o Nandi, que trabalhou com Diógenes na Secretaria dos Transportes de Porto Alegre, ao final dos anos 1980.

mEMÓRIAS DO EXÍLIO

Não bastasse o entra-e-sai de correligionários, despertavam curiosidade no bairro as visitas frequentes de amigas, depois que, no início da década de 1990, Diógenes se separou da advogada portuguesa Marilinda Marques Fernandes (mãe de seus dois filhos).

— O que se comentava é que era uma namorada por semana. Não sei se é verdade — diz a vizinha Lúcia Lopes da Silveira, à boca pequena.

Com a portuguesa Marilinda Fernandes, que conheceu na Guiné-Bissau

Apesar das confraternizações e dos encontros amorosos, era um homem que apreciava – e sabia como – resguardar a privacidade. Embora fosse sempre afável, evitava falar de assuntos íntimos, mesmo com parentes próximos.

— Ele gostava de conviver com as pessoas, mas sabia se preservar e valorizava o espaço da solidão. Para ser honesto com o personagem, não teria sido o guerrilheiro que foi sem que tivesse desenvolvido essa característica da impessoalidade — acentua Guilherme.

Na reta final da vida, deu uma guinada na faixa etária dos convivas e passou a receber em casa uma galera 40 ou até 50 anos mais jovem do que ele. O ex-governador Olívio Dutra destaca a capacidade de Diógenes de criar vínculos com as novas gerações:

— Isso não era por acaso. Estava de olho nos jovens porque queria deixar um legado para o futuro — diz Olívio.

Um desses novos amigos era o músico Ciro Ferreira. O primeiro encontro entre os dois foi bastante inusitado. Aconteceu no elevador do Edifício Praça XV, no centro de Porto Alegre, na década de 2000, quando Ciro tinha 11 anos de idade.

— Eu era um piá e fui visitar meu tio, que tinha escritório no prédio onde Diógenes trabalhava.

Naquela tarde, ao ingressar no elevador, o moleque inventou de apertar os botões de todos os andares. De repente, a porta se abriu e entrou um senhor com ar de apressado:

— Isso não se faz, estamos num ambiente de trabalho — repreendeu Diógenes, ao notar a travessura da criança.

Diógenes (de boné) no show Memórias do Exílio, no bar Guernica

Anos depois, Ciro conheceu Guilherme num evento da Associação Cultural José Martí e, a partir dali, passou a ser um assíduo frequentador do casarão da Lopo Gonçalves. A afinidade com aquele senhor que o havia ralhado no elevador foi imediata.

— De todos os amigos que a vida me trouxe, ele foi o mais importante — afirma Ciro.

Tanto é que ambos se juntaram para promover o show Memórias do Exílio no bar Guernica, ali do lado, na Travessa dos Venezianos, em 2021.

Participava também Ubiratan de Souza, outro que havia sido preso e expurgado do país na ditadura militar. No evento, Diógenes e Ubiratan contavam histórias pitorescas do período em que estiveram exilados. Os causos eram ilustrados por canções que Ciro exibia no formato de voz e violão.

Morador da área rural de Sapucaia do Sul, na região metropolitana de Porto Alegre, Ciro vinha de trem para a Capital e, para não se apresentar desalinhado diante do público, trazia uma camisa sobressalente. Como era de se esperar, a peça de roupa saía da mochila completamente amassada.

— Como assim? Mas tu és muito relaxado mesmo. Deixa que eu próprio vou passar a ferro, porque está na cara que tu não sabes fazer isso — reagiu Diógenes.

Artista do cotidiano

Sócia do Guernica, a advogada Bruna Martello é outra que conviveu intensamente com Diógenes na fase derradeira da existência dele. Ela o conheceu um ano antes de sua morte e, desde então, criou o hábito de visitá-lo pelo menos uma vez por semana.

— Dava uma passadinha, nem que fosse para tomar um café e bater um papo. Ele inundava a gente com lembranças do tempo da ditadura e da volta ao mundo que deu no exílio. Tinha uma memória prodigiosa, não demorava para lembrar de nomes e episódios.

Dançando na África, onde viveu como exilado

Para interagir com a moçada, obviamente, Diógenes organizava jantas e saraus em casa. Conforme Bruna, aquilo era uma diversão para ele, mas também dava trabalho.

É que o anfitrião elaborava um roteiro prévio de tudo o que ia acontecer – a qual hora começaria o sarau, quais poesias e canções seriam mostradas, em que parte da mesa cada um dos convidados deveria se sentar durante o jantar e assim por diante.

Metódico ao extremo, Diógenes deixou pronto – passo a passo – o roteiro do próprio funeral. Para isso, certo dia, chamou Ciro num canto da sala:

— Tu sabes que eu estou me indo.

— Para com isso, Diógenes. Lá vens tu com essa conversa de novo — retrucou o músico, desconfortável com o rumo da prosa.

— Fica frio, daqui a pouco vou morrer e quero deixar tudo preparado.

O roteiro do sepultamento incluía uma versão em português da canção Cruz de Olvido (sucesso da cantora mexicana Lila Downs). A ideia era gravá-la num celular com a voz de Diógenes, acompanhada ao violão por Ciro, e tocá-la durante o velório.

— O que tu imaginas que vou sentir, sendo eu teu amigo? — indagou Ciro, ao saber dos planos.

— Teu problema é que não pensas na morte porque és um alienado. Se a pessoa não pensar na própria morte, outros terão que pensar por ela e aí não vai dar certo.

Dito e feito. A voz de Diógenes ecoou na cerimônia fúnebre, cantarolando os versos de Cruz de Olvido, como ele havia pedido. É bem verdade que os versos da canção soaram um tanto embaralhados na caixinha de som de qualidade duvidosa, que o próprio finado tinha comprado de um camelô na Rua da Praia.

A trilha do adeus incluía também Bolero de Ravel, executado quando o caixão estava sendo conduzido até o túmulo.

— O velório foi emocionante e, ao mesmo tempo, cômico. Tinha uma atmosfera nonsense no ar — testemunha Bruna.

Foi, sem dúvida, a aparição fulgurante e derradeira de um artista do cotidiano, que Diógenes, em que pese a seriedade da trajetória política, sempre encarnou.

QG DA LEGALIDADE

Esse personagem raro e fascinante nasceu em Júlio de Castilhos, na região central do RS, em 3 de novembro de 1942, oriundo de uma família de pequenos agricultores. Como não havia dinheiro para pagar colégio particular, foi enviado para o Seminário dos Padres Palotinos, próximo a Santa Maria.

Só que o rapaz não tinha vocação para vestir a batina. Com isso, o jeito foi mandá-lo para Porto Alegre, onde chegou com um bilhetinho no bolso.

O autor das mal traçadas linhas era Hugo Canfield, um parente distante de Diógenes, tido como único comunista de carteirinha de Júlio de Castilhos. E a destinatária era a poeta, pianista, jornalista e professora Lila Ripoll.

Naquele tempo, Lila cultivava o hábito de ensinar teoria marxista para jovens pupilos em sua casa.

— Foi ela quem me introduziu no marxismo e, através dela, me tornei comunista — contava Diógenes.

Mata Borrâo: QG da Legalidade (Acervo João Alberto FAU UniRitter)

Da teoria à prática: ele se iniciou nas escaramuças políticas durante a Campanha da Legalidade, em 1961. Pudera, Porto Alegre estava em polvorosa na época.

Após a renúncia do presidente Jânio Quadros, o governador Leonel Brizola transformara o Palácio Piratini, na Praça da Matriz, no centro da resistência nacional à ruptura da ordem constitucional. É que a União Democrática Nacional (UDN), partido conservador apoiado por militares, pretendia impedir a posse do vice-presidente João Goulart.

Diógenes exercia dupla militância – oficialmente, atuava no PTB de Brizola, mas, clandestinamente, era membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB), o Partidão, que operava na ilegalidade.

Ele tinha 19 anos e era ainda secundarista no Colégio Monteiro Lobato, na subida da Rua da Ladeira, mas a falta de experiência não o intimidava. Arregaçou as mangas para ajudar a distribuir revólveres e pistolas recrutados por Brizola nas fábricas Taurus e Rossi com a finalidade de armar a população civil. 

O arsenal foi entregue para voluntários dispostos a trocar chumbo com golpistas no antigo prédio do Mata Borrão, na esquina da Avenida Borges de Medeiros com a Rua General Andrade Neves, onde hoje funciona o Tudo Fácil.

Naqueles dias agitados, a construção de madeira, de inspiração modernista, que lembrava a figura de um olho humano, servia de QG da Legalidade. Cada porto-alegrense tinha direito a uma arma e duas caixas de balas.

— Eu consegui uma pistola italiana, mas a gente desejava mesmo eram o “três-oitão” da Taurus — relatou Diógenes.

“AQui é a revolução!”

Em 1964, com a eclosão do golpe militar, Diógenes – àquela altura escriturário da Companhia Estadual de Energia Elétrica – recebeu a tarefa de cruzar a fronteira entre Brasil e Uruguai para se encontrar com Brizola, que estava refugiado num balneário a 45 km de Montevidéu.

Nesse vai-e-vem, trazia exemplares do jornal do Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR) na bagagem para distribuir aos operários brasileiros em portas de fábrica.

Em seguida, Brizola entregou-lhe uma missão mais arriscada: viajar a Cuba para receber treinamento de guerrilha nas montanhas íngremes de Sierra Maestra, onde Fidel Castro havia dado início à revolução. Só que existia um pormenor: Diógenes tinha cedido o passaporte para outro militante do MNR e, sem o documento, não conseguiria embarcar.

Morte do agente da CIA Charles Chandler (Reprodução/Arquivo Público de SP)

Quem quebrou o galho foi o amigo e companheiro de militância Paulo de Tarso Carneiro, que lhe emprestou o passaporte.

— Sabia que, um dia, teu pai já se chamou Paulo de Tarso? — perguntou Tarso a Guilherme, tempos depois da morte de Diógenes.

Ninguém na família sabia disso. A rigidez com que Diógenes tratava dos temas políticos fez com que jamais revelasse o episódio.

De volta ao Brasil, em 1967, Diógenes virou militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), dissidência do Partidão que havia sido criada para promover a luta armada, sob a liderança do capitão Carlos Lamarca.

De arma em punho, Diógenes participou de vários atos da guerrilha, como a invasão ao Hospital Geral do Exército, no bairro Cambuci, em São Paulo, onde ingressou fantasiado de soldado.

No assalto à Casa de Armas Diana, no centro da capital paulista, desferiu um tiro na perna de um funcionário que tentava chamar a polícia:

— Isso aqui não é brincadeira, aqui é a revolução! — bradou Diógenes.

Ele se envolveu também no cerco ao capitão Charles Chandler, veterano da guerra do Vietnã e agente da CIA, que estava no país para ensinar técnicas de tortura aos militares brasileiros.

Chandler manobrava, de ré, uma perua Impala para sair de casa, no bairro Sumaré, em São Paulo, quando foi alvejado por seis balas disparadas por Diógenes com um revólver Taurus 38 – o “três-oitão” que ele namorava desde o Movimento da Legalidade.

Mas aquela era uma guerra perdida, dado o desequilíbrio de forças entre um lado e outro.

EMBOSCADA NA PRAÇA DA ÁRVORE

Diógenes foi preso em março de 1969, numa emboscada na Praça da Árvore, no bairro de Mirandópolis, zona sul de São Paulo.

Bem que ele sentiu que havia algo errado ao ver, de longe, sentado num banco da praça, o companheiro com o qual deveria se encontrar.

O rapaz estava com o rosto inchado, consequência das agressões na cadeia. Para disfarçar, Diógenes se dirigiu a uma banca de jornal e solicitou um exemplar do Estadão. De dentro da banca, saltaram os policiais que estavam ali para prendê-lo.

Torturas no calabouço deixaram sequelas por toda a vida

Na temporada na masmorra, orgulhou-se para todo o sempre de não ter revelado o paradeiro de Lamarca, apesar das torturas a que foi sujeito.

Por sinal, as sequelas das agressões físicas no tempo da prisão o acompanharam por toda a vida, sendo, em parte, responsáveis por sua morte, décadas depois.

Não bastasse o joelho de titânio, consequência da violência no pau de arara, Diógenes desenvolveu um raro tipo de câncer ocular ao sair da cadeia.

É que ele tinha, desde criança, um olho de vidro, resquício de um acidente sofrido nas lidas do campo. Os torturadores retiraram a prótese para aplicar choques elétricos na cavidade aberta.

Conforme Guilherme, uma das causas da morte do pai foi a metástase do tumor que se produziu no local a partir das sevícias.

Diógenes foi solto em março de 1970, junto com outros cinco presos políticos, em troca do cônsul japonês Nabuo Okuchi, que havia sido sequestrado pela VPR. 

No exílio, passou por Uruguai, Cuba, México, Bélgica, Chile, Guiné-Bissau, Coreia do Norte, Líbia e China, e fez de tudo um pouco. 

Em solo mexicano, trabalhou num banco de fomento ao artesanato. No Chile, para escapar das garras do general Augusto Pinochet, ficou de tocaia na calçada até entrar, sorrateiramente, na embaixada do México, no rastro do caminhão que trazia pão para abastecer o prédio diplomático.

Ficou mais tempo na Guiné-Bissau, de 1975 a 1983. Como funcionário do governo local, ajudou a organizar o sistema de estatísticas do país, mas precisou ir embora por causa da malária.

— A toda hora viajava para fazer tratamento no Instituto de Medicina Tropical de Lisboa, até que os médicos disseram: “Tens é que sair da zona infestada” — relatou depois.

MEMÓRIA, VERDADE, JUSTIÇA

De volta ao Brasil em 1983, com a abertura política, filiou-se ao PT e foi secretário dos Transportes na gestão de Olívio na prefeitura de Porto Alegre, de 1989 a 1992, época em que liderou a intervenção no transporte público da cidade.

No mandato de Olívio como governador do Estado, entre 1999 e 2002, teve a vida devastada pela CPI da Segurança Pública, criada para investigar a denúncia de um suposto financiamento ilícito de campanha política (Diógenes fora indicado pelo partido para atuar na captação de recursos).

Apesar do show midiático, ele foi absolvido de todos os processos judiciais que enfrentou, o que não apagou, certamente, o linchamento moral a que foi submetido.

Guilherme e Diógenes

— Foi desproporcional. Por trás de tudo, queriam o impeachment do Olívio, que não aconteceu. Isso era o que estava na pauta — disse Diógenes, em entrevista ao Sul21.

Diógenes José Carvalho de Oliveira morreu em 28 de outubro de 2022, um mês antes de completar 80 anos de idade, Para quem quiser conhecer mais a vida dessa personalidade ímpar da história brasileira, uma opção é ler a biografia Diógenes, o Guerrilheiro – Ousar Lutar, Ousar Vencer! (Editora Evangraf), escrita por Hatsuo Fukuda.

— Não é um livro água com açúcar para as comadres lerem – avisou Diógenes, quando a obra saiu, em 2014.

Já em 2023, foi lançado o fotolivro Memória – Diógenes Oliveira, produzido pelo filho Guilherme e Matheus Piccini. Ambas as publicações podem ser adquiridas aqui, pelo Instagram da Casa Diógenes Oliveira ou ainda pelo whats (51) 986213070.

Hoje, o sobrado da Lopo Gonçalves se funde com as pegadas deixadas por Diógenes ao longo de uma vida tão atribulada quanto inspiradora. Conforme Guilherme, mais do que um polo aglutinador da vida cultural de Porto Alegre, o projeto é fazer da casa um centro de “memória, verdade e justiça”.

— Não deve ser um lugar de culto ao personalismo, e sim um espaço de reflexão sobre a importância da democracia e da luta por liberdade e justiça social — conclui ele.