Um “bah!” com sotaque francês

Se alguém fosse descrever essa andarilha de múltiplos talentos e atividades, bem que poderia resumir:

— É uma francesa que diz “bah!” no Rio de Janeiro.

Pelo menos é o que sugere o livro de estreia de Charlotte Dafol, Como Num Romance, um relato da temporada de 18 meses (entre 2017 e 2018) no Rio de Janeiro da escritora, cantora, violonista, cineasta, fotógrafa, desenhista e ativista social nascida em Paris, em 1987, atualmente radicada em Porto Alegre.

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Heróis da resistência

Na terça-feira, dia 19/5, data de publicação do decreto da prefeitura de Porto Alegre que liberou a reabertura de bares e restaurantes, com restrições de distanciamento social por causa da covid-19, o Brasil ultrapassou pela primeira vez a marca de mil mortos no período de 24 horas por causa da pandemia.

Ainda que a Capital do RS apresente indicadores de um controle mais efetivo do avanço do novo coronavírus, em comparação com outras cidades brasileiras, principalmente das regiões Norte, Nordeste e Sudeste, uma parcela considerável de bares se recusou a voltar às atividades, apesar das dificuldades financeiras decorrentes do período de dois meses de quarentena.

Na lista dos que adotaram essa atitude, impressiona não apenas a quantidade, mas principalmente a representatividade dos estabelecimentos na cena noturna porto-alegrense.

— Vamos esperar para ver como essa abertura vai se refletir do ponto de vista epidemiológico. No momento, prudência é uma boa medida, até porque ainda não há clima para a boemia — diz Pepe Martini, que dirige o bar Guernica, junto com o pai, Roni, na Travessa dos Venezianos, na Cidade Baixa.

Outro bar que prosseguirá em compasso de espera é o Parangolé, referência de música ao vivo na Cidade Baixa.

— Apesar da situação relativamente tranquila em Porto Alegre, temos que pensar no restante do País, que mostra um quadro assustador — afirma Cláudio Soares de Freitas, o seu Cláudio, dono do Parangolé.

No dia da publicação do decreto, ele fez uma reunião online com a esposa Marta e os filhos (a jornalista Ana Laura e o violonista Thiago). A família decidiu por unanimidade não abrir o bar, entre outros motivos, para proteger Cláudio, que, apesar da saúde de ferro, aos 66 anos faz parte do grupo de risco da covid-19 por conta da idade.

— É verdade que não apresento doenças pré-existentes, mas até gente jovem tem morrido. De minha parte, não estou disposto a brincar com o vírus — pondera Cláudio.

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Ensaios da quarentena

Histórias da quarentena em Porto Alegre, com Edu K, Fernanda Carvalho Leite, a Fê, Marcelo Nunes e Bebê Baumgarten. Relatos de delicadeza, descobertas, apreensões e mudança de hábitos no isolamento social em meio à pandemia da Covid-19.

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Gente da noite

Pequenino, ele se move como uma usina de alegria e empatia há mais de duas décadas pela noite de Porto Alegre.

Desde o Ritrovo e o Pier 174, cafés pioneiros da calçada da Rua da República, na Cidade Baixa, passando pelo inesquecível Entreato, até o lendário Bar do Nito, no Moinhos de Vento, no qual atualmente exerce a gerência, César Augusto Peixoto da Silveira, o Guto, de 50 anos, só trabalhou em bares que marcaram época na boemia da Capital.

Com a larga experiência adquirida, Guto é a pessoa indicada para citar os principais atributos para se trabalhar à noite:

— Precisa ter comunicação, ser pró-ativo e manter a cabeça fria, principalmente nas horas críticas.

Nada disso vai dar bom resultado se a criatura não curtir a noite. Além de fonte de subsistência, a boemia sempre foi alvo de diversão para Guto. Aliás, no velho Ritrovo, a certa altura da noite, diante da insistência do público em não arredar pé, ele sabia como resolver o impasse. Não foram poucas as vezes que retirou o avental e convidou os clientes para perambular junto com ele por outros bares, que ficavam de portas abertas madrugada adentro.

— Era o único jeito de fechar o bar — conta Guto, com ar divertido.

Por essas e outras, Guto cativa o público boêmio de Porto Alegre há tanto tempo, sempre com altas doses de simpatia e camaradagem.

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Fartura de vida

Uma mesa repleta de amores, deleites e prazeres em contraposição ao sentimento de fastio e revolta que já está por um fio.

Este é o mote de Mesa Farta, “espetáculo celebrativo” do grupo Pretagô com pré-estreia nos dias 15 e 16/fevereiro (sábado e domingo), no Teatro Renascença, como parte da programação de encerramento do Festival Porto Verão Alegre 2020.

Não é a primeira vez que o Pretagô reverencia a alegria e a indignação dos territórios negros de Porto Alegre.

O tema está presente também em AfroMe (Prêmios Açorianos de Melhor Produção e Braskem Em Cena de Melhor Espetáculo do Júri Popular, ambos em 2016), espetáculo protagonizado dentro do Boteco do Paulista e na calçada em frente ao bar, no Centro Histórico de Porto Alegre, e na peça de estreia do grupo, Qual a Diferença Entre o Charme e o Funk? (Açorianos de Melhor Trilha Sonora, em 2015).

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O anfitrião de Porto Alegre

Eduardo Titton, de 33 anos, criador de três bares que estão em qualquer lista dos mais inovadores de Porto Alegre – Agulha, Linha e Vasco da Gama, 1020 –, prepara-se para lançar um quarto projeto na noite da Capital: uma vermuteria no 4º Distrito.

Aberto em agosto de 2017, em sociedade com o mano Fernando, o Agulha é, atualmente, o principal palco das vertentes contemporâneas da música popular em Porto Alegre.

O Linha conta com bar e espaço para sessões de cinema, performances de dança, oficinas e workshops, além de ateliês individuais e compartilhados para artistas visuais.

Em parceria com o chef Mauri Olmi, Eduardo, Fernando e Bruna se preparam para abrir uma vermuteria a uma quadra do Linha, no cruzamento da Rua Moura Azevedo com a Avenida Presidente Roosevelt, em prédio construído em 1917, que fica em frente à antiga sede do Clube Sociedade Gondoleiros.

Eduardo jura de pés juntos que a vermuteria é o último negócio a ser posto em prática. Ah, espera aí, ele lembrou agora de mais uma ideia que está na gaveta – o projeto de uma livraria. Não conta para ninguém, mas já andou até batendo pernas pelo Bom Fim à procura de um imóvel, tudo por conta da vontade de criar espaços de boa convivência e cultura de qualidade. Porto Alegre agradece.

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O traço do anarquista

— Às vezes, bate um medo quando começo a desenhar. Fico pensando em milícias e outras forças do submundo que podem agir por aí. Eu não imaginava que pudéssemos regredir tanto.

A afirmação foi feita pelo cartunista Neltair Rebés Abreu, o Santiago, ao participar do lançamento do livro Rua da Margem – Histórias de Porto Alegre, no bar Parangolé, no sábado dia 14/dezembro. Personagem de um dos capítulos da obra, Santiago foi entrevistado pelo autor, o jornalista Paulo César Teixeira, editor do Rua da Margem.

Com 18 livros publicados e dezenas de prêmios acumulados ao longo da carreira, o desenhista colabora atualmente com os jornais Extra Classe, do Sinpro/RS (Sindicato dos Professores da Rede Privada) e João de Barro, da APCEF (Associação do Pessoal da Caixa Econômica Federal), além da revista do CREA/RS (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia). Os cartuns de Santiago estão presentes também no Brasil de Fato RS, publicação que acaba de lançar edição especial de humor.

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Gente da noite

Quem olha a figura com ares alternativos, que atende os clientes do bar I Love CB, nem desconfia que ali está um trabalhador experiente e calejado. Carlos Eduardo Caldeira Medronha, o Dudu, de 34 anos, ganha a vida em bares da Cidade Baixa desde 2002. Nem deu para sentir o tempo correr, mas metade da vida ele passou como operário da noite porto-alegrense.

O currículo é invejável – com carteira assinada ou como freelancer, ele passou pelo 8 e Meio, Pé Palito, Bahamas, Yang, Funilaria, Tapas, Entreato... Ufa, a lista é longa – de quebra, ainda serviu almoço no Ocidente por algum tempo. Difícil é apontar qual o bar relevante da CB que não contou com os préstimos do rapaz.

Como quase todo mundo que trabalha na noite, Dudu sonha montar, no futuro, um boteco que reúna as qualidades de cada um dos locais que ajudou a construir.

— Um dia vou fazer o melhor bar de Porto Alegre, diz, rindo em seguida, como se reprovasse a audácia da frase que acabou de proferir.

Ele tem até um caderninho no qual vai anotando detalhes de bebida, comida e decoração que não poderão faltar, mas isso é segredo, como também não dá para adiantar os nomes que especula para a futura casa.

— Sabe como é, alguém pode copiar, justifica ele, pedindo licença para atender a freguesia que, a essa altura, já ocupa com alegria e intimidade o espaço aconchegante do I Love CB.

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Temporada no Sul

Filho de Taiguara, um dos compositores brasileiros mais destacados entre as décadas de 1960 e 1980, o carioca Samora Potiguara, de 37 anos, aproveita temporada na casa de parentes em Porto Alegre para mostrar seu trabalho musical nos bares da Cidade Baixa. Na sexta-feira, 18/10, por exemplo, ele faz show de voz e violão no bar Guernica, na Travessa dos Venezianos, 44, apresentando uma mistura original de MPB e soft rock e, claro, revisitando sucessos do pai.

Embora resguarde a consciência crítica acerca do mundo em que vive, a exemplo da obra de Taiguara, as canções de Samora apontam para múltiplas referências, que incluem desde a universalidade do som dos Beatles até o estilo progressivo de The Alan Parsons Project, passando pelo rock alternativo de Pearl Jam e bandas brasileiras dos anos 1980 como Barão Vermelho, Legião Urbana e Ira!.

— Fora isso, tenho a pretensão de agregar à música que faço elementos percussivos do candombe uruguaio e de outros batuques originários da África sem perder a pegada pop. A meu ver, o rock nada mais é do que a evolução de um processo musical que tem início na cultura africana.

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O bofe nas vilas de malocas

A homossexualidade masculina foi um dos argumentos usados como justificativa para a transferência da população pobre de Porto Alegre de áreas centrais para a periferia da cidade no século passado.

Essa é a afirmativa do historiador Rodrigo Weimer após estudar dados de um relatório administrativo sobre as “vilas das malocas” (hoje denominadas favelas) apresentado em 1952 pela prefeitura da capital gaúcha na Câmara de Vereadores. A conclusão é exposta por Weimer em artigo publicado há pouco mais de um mês pela revista Aedos, do PPG em História da UFRGS.

O relatório elaborado durante a gestão do prefeito Ildo Meneghetti aponta evidências de alcoolismo, prostituição e comportamento sexual não-normativo como exemplos de “sujeira moral”, “quisto social” e “situação anômala” no cotidiano dos favelados, o que teria servido de argumento e pretexto para a posterior expulsão dos “maloqueiros” para áreas distantes do Centro. Textualmente, o documento histórico afirma que casos “palpáveis surgiram à tona durante a pesquisa, demonstrando que, se bem que em extremos, até que ponto pode chegar a imoralidade nesses grupamentos humanos”.

— Constata-se que, sob um viés moralista e uma visão preconceituosa, a sexualidade desviante foi considerada abjeta e, mais do que isso, aproximada à realidade da “maloca”, ela, também, impregnada de atributos pejorativos, destaca Weimer.

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Com a cara dos anos 80

Uma das mais emblemáticas bandas dos anos 1980 está de volta. Lançado nas plataformas digitais na sexta, dia 23/8, o álbum MiniMundo reúne as canções anárquicas e transgressoras do Atahualpa Y Us Punquis, grupo que costurou de modo peculiar e intransferível influências de pop básico, punk rock, música serialista e atonalismos sob a batuta de Carlos Eduardo Miranda, o Gordo Miranda, músico e produtor responsável pela formatação de boa parte do rock nacional nas últimas três décadas.

O show de lançamento de MiniMundo, álbum do selo YB, de SP, acontece na segunda-feira, dia 26/8, na Segunda Maluca do bar Ocidente, em Porto Alegre. Outras duas apresentações estão agendadas em São Paulo – dia 10/9, no Centro da Terra, em Perdizes, e em 12/9 no Mundo Pensante, no Bixiga, com a Orquestra da Depressão Provinciana, contando ainda com as participações especiais de Gabriel Thomaz, Marcelo Gross e Beto Bruno. 

O disco foi gravado em março deste ano no Estúdio IAPI, na zona norte de Porto Alegre. Além das canções do Atahualpa, inclui Pop Básico, música inédita feita por Carlinhos Carneiro para a ocasião. Se, por um lado, MiniMundo constitui o resgate de um repertório representativo de uma época fecunda do rock, também surpreende pelas melodias agradáveis, com letras inteligentes e afiadas.

— Num momento distópico, num lugar que se tornou surreal, nada como uma boa dose de poesia atemporal e um chute na bunda com boa dose de punk, rock e qualquer loucura que seja, resume Flávio Flu Santos.

Com certeza, o Gordo Miranda ficaria orgulhoso e diria: “É isso aí, velhinho!”. 

 

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O triunfo do rock de garagem

O rock está em festa. Os Replicantes estão completando 35 anos de atividades – a banda surgiu numa garagem da Rua Marquês do Pombal, na fronteira do Moinhos de Vento com a Floresta, sob o ritmo frenético do punk rock, em 1984.

Desde o começo, as letras de contestação e puro deboche abordam temas que vão do consumo supérfluo e o ativismo de boutique à opressão humana por instituições como o estado, a família e a igreja. Tudo isso envolto num clima de ficção científica – não custa lembrar que replicantes eram os androides de Blade Runner, filme de Ridley Scott lançado em 1982.

Em três décadas e meia, foram compostas mais de 100 canções registradas em 13 álbuns e três DVD’s, com reconhecimento de público e crítica – Surfista Calhorda, por exemplo, está no playlist das “100 músicas que você precisa escutar” do livro Curtindo a Música Brasileira – Um Guia Para Entender e Ouvir o Melhor da Nossa Arte, de Alexandre Petillo. Referência do rock nacional, em três excursões à Europa passaram por palcos de França, Suécia, Alemanha, Suíça, Noruega, Finlândia, Bélgica e Holanda. 

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